Casca de ovo
Foto: Ana Paula Rolón
Cena Apresentada na Mostra BOSQUE_puc cena experimental
''O OVO'' com atuação de Aron Costa, direção Silvero Pereira
Aron Costa inicia sua fala na cena O OVO referindo a si mesmo como "desinteressante". Contudo, um estudante calouro de Artes Cênicas que em seu primeiro período tem o atrevimento, no melhor sentido da palavra, de se apresentar na mostra de arte do curso, de desinteressante não tem nada. Ele é no mínimo corajoso, para não dizer ousado.
Entramos no espaço e o ator já está em cena nos recebendo com um sorriso de ponta a ponta. Quando todos se acomodam, seu discurso tem início com tranquilidade, beirando a informalidade ao nos contar de seus ensaios, o que cria uma adesão que nos conecta a fala humorada e ao agradável despojamento do ator-personagem. Impressiona a cena simples, sem grandes recursos de cenário, figurino ou trilha sonora.
Pés descalços e bem cravados no chão, o ator nos conta a história de Caio Fernando Abreu como se fosse sua: “Soldados da Brigada” que roubam namoradas, pai que esbofeteia a cara do filho, parede branca no horizonte que todos veem, mas ninguém admite devido tamanha repressão.
Um jogo de formalidades muito instigante é criado, em que a intensidade do ator varia entre o formal e o descontraído. A sensação é a de estas variações provocarem um estado de atenção em quem assiste e tornarem a cena muito mais dinâmica. Entretanto, as transições destes estados ficaram muito marcadas e acabaram criando um ruído. O jogo propõe uma fluidez que o corpo e fala ainda “enrijecidos” não conseguiram acompanhar.
Na iluminação esse jogo favorece: ora o espaço se abre em pequenos focos, ora uma única luz em formato oval encurrala o ator. A luz de serviço geral também faz parte da cena, mas é preciso ressaltar que o técnico de luz, vestindo roupas coloridas e mexendo em folhas de papel naquele espaço, borrava a materialidade da cena. Por ser uma ação exposta ao público, a operação de luz deve fazer parte da cena e não se presumir que o público vá desconsiderar aquele influxo.
A direção de Silvero Pereira trilha um caminho performático que é destaque no corpo de Aron Costa. Como em Br-Trans ou Uma Flor de Dama, outros trabalhos do diretor, as nuances vocais tentam ser enfatizadas assim como o corpo performativo está sendo potencializado para que a cena chegue ao espectador com intensidade. Tudo isso ainda é muito sutil. Ao que tudo indica, a cena se encontra em processo e existem muitos pontos a serem trabalhados. Não sabemos se a sutileza é uma questão em desdobramento e expansão ou se a proposição da direção é que ela permaneça notória da maneira que está.
Mesmo com um nervosismo explícito, Aron definitivamente não é um “Soldado da Brigada” e não há pai ou parede branca que vá impedi-lo de ganhar o mundo. Voe.