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Graxa embaixo da unha

Foto: Ana Paula Rolón

Naçú (leitura): Mostra BOSQUE_puc cena experimental

Abril de 2017 - Decania (PUC-Rio)

Tarde de segunda-feira, décimo-segundo andar, varanda. As pessoas se encontram ou se reencontram, conversas paralelas, pessoas fotografando umas às outras. Os atores Kauê Itabacema e Thiago Catarino começam a se posicionar na mesa em que será lido o texto de autoria do próprio Kauê. Eles se apresentam e começam a leitura. A paisagem urbana atrás dos atores entre céu, montanhas e prédios contrasta de imediato com o texto. Me pergunto se a escolha do lugar ajuda a abrir os campos semânticos realmente. Tenho vontade de ouvi-los em um local fechado.


Eles começam o texto contando de um lugar onde história e geografia se entremeiam: Somos levados a um Brasil indígena e escravagista, em seguida, à miscigenação dos povos. Este momento me faz refletir sobre a miscigenação do país, um fato histórico. Nada mais? O que colhemos deste fato histórico me parece ter sido parte de um plano muito bem estruturado pelos dominantes-colonizadores, já que a hierarquia massacrante desse plano predomina até os dias atuais, ignorando as características dos povos originários e escravizando, ainda, muita mão de obra negra. Estas são as primeiras questões que o texto e as mãos do Kauê, que tenta construir um mapa de São Paulo: ABC, Diadema+ nos traz. Como Kauê reflete: "E quem nasce em São Berrrnardo é o que? Batateiro."


Nesse passeio pelo estado de São Paulo aparecem lados antagônicos entre uma parte rica e outra pobre. O autor se coloca, por vezes, criando links entre suas experiências de vida no Rio de Janeiro e em São Paulo. Compara a zona norte (pobre) daqui com a zona norte (rica) de lá, a zona sul (rica) daqui e a zona sul (pobre) de lá.


Durante a leitura nascem algumas histórias em torno de uma travesti chamada Naçú (nome título do texto), uma mulher (biológica) com quem ela tem/teve uma relação íntima e a filha Thainara recém nascida. Naçú quer se aproximar e criar a filha, a outra mãe não quer que as duas tenham uma relação. Naçú quer ser chamado de pai, ela parece ter honra dessa classificação. Nesta situação aparece o drama da história. Paralelo ao drama da personagem, o texto é repleto de nuances: ora trata da cidade, da família ou de ancestrais (religiosos ou não.) O autor construiu a sua personagem de forma muito corporal e física. Conseguimos imaginar a materialidade de um corpo que trabalha, que se vende, que resiste num contexto social que rejeita o diferente. Um contexto herdado e perpetuado desde a colônia, foco que o autor traz no início do texto. A personagem nos leva por caminhos que ela passou, como o banheirão da faculdade. Naçú cita um professor com qual ela também teve uma relação, a personificação do saber aparece aqui. Acredito que este último caso nos mostra, outra vez durante o texto, autor e personagem como um só. O autor está na universidade, a personagem tem relação com o "professor do cursinho comunitário", ambos num contexto do saber. A vontade de saber, conhecer, TRANSparece, aqui.


Kauê cria nesse texto a possibilidade tanto de um monólogo quanto a de uma peça mais elaborada, com mais de dois três atores. Existe cronologia na construção do seu texto, no jogo que ele faz com as duas cidades caóticas. A história é dramática com a possibilidade de não pertencer a um único padrão identitário.


*Andrew, 22 anos, estudante de artes cênicas na universidade PUC-Rio. ATORdoado, periféricx, produtor de moda e observador em temperança.

 MANIFESTo CULTURAL        ''SEMENTES'' 

 

Nós nos reunimos para pensar o pensamento crítico da atualidade. Um pensamento crítico que pretende aproximar os fazeres artísticos em pauta da pesquisa universitária.

Investigamos o diálogo em ebulição entre as formas mais tradicionais - em desuso ou não - as questões contemporâneas e as nossas individualidades enquanto alunos de Artes Cênicas da PUC-Rio.

 

A semente que plantamos se distancia do juízo de valor e busca conectar as experiências estéticas em exposição com os nossos próprios experimentos.  

  Dicas da semana: 

 

02/06/17: Obsessões (Laborátorio de Artes Cênicas PUC-Rio) 

03/06/17: Anánkê (Laboratório de Artes Cênicas PUC-Rio) 

04/06/17: Boca de miséria (Vila os diretórios PUC-Rio)

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