Paráfrase de si
"Édipou - O príncipe do Ceará"
Ator/Dramaturgo: Jhon Jhon Oliveira|Direção: Jhon Jhon Oliveira e Diogo Olissil
Cena Apresentada na Mostra BOSQUE_puc cena experimental
Assistir a cena de um colega, que foi construída em uma disciplina em comum (Teatro Antigo) gera uma certa expectativa. Após um ano de estudos, o autor traz com coragem a cena, agora com trinta minutos (algo em torno de dez minutos a menos que a inédita), na quinta Mostra BOSQUE_puc cena experimental. Dividindo o tablado do Laboratório de Artes Cênicas (LAC) com outros jovens artistas, "Édipou" é um dentre os três monólogos das cinco cenas curtas apresentadas.
Com trajes que remetem ao figurino grego comum e uma folha de louro na cabeça, o ator começa com um prólogo, mais lento e baixo que o decorrer da história. Cheio de vontade de falar, os ápices de energias que seguem refletem um corpo comprometido, mas às vezes com uma energia desperdiçada. A dificuldade de controlar a energia desprendida reforça o desgaste da voz do ator em momentos em que esta seria mais importante na cena. Talvez fosse o caso de a modulação da voz estar melhor organizada nas variações de personagens, uma vez que uma única pessoa no palco é responsável por todas vozes e histórias. Isso é o que mais chama a atenção, pela versatilidade em cena. Entretanto, nos momentos em que ocorrem um descuido com a postura e voz o ator fica um tanto “vendido” e o público confuso.
Já a dramaturgia utiliza sabiamente a tragédia de Édipo para dar visibilidade a história comum do nordestino no sudeste: o artista em cena em muitos momentos, ainda mais do meio para o final, não faz questão de esconder seus anseios e convicções próprias. A história de Édipo e da sua versão inédita, denominada Édipou, dão a impressão de serem bases para que Jhon Jhon ganhe espaço e possa dizer o que lhe incomoda: em metade dos minutos da cena, há um tom de auto-ajuda para conflitos de uma vida comum e o ator abre mão de todas as construções de personagens e da própria comicidade. O papo se torna reto e num tom de desabafo-protesto. A quebra que se dá decorrente disso, misturando histórias que parecem ser de cenas distintas, talvez faça com que se perca um pouco da energia e da condução da peça, não pelo o que foi abordado, mas da forma que se dá.
Os pontos que reverberam são as tensões entre comédia e drama e o destino de Édipo e do nordestino em si, ambos com uma predestinação “desgraçada”, nas palavras do ator. O provocador de riso, e que muitas vezes é chacota num país ainda muito preconceituoso, o nordestino aparece agora apropriando-se, surpreendentemente, de uma tragédia célebre e lida/ escutada mundialmente. Jhon Jhon utiliza o já conhecido drama de Sófocles para se empoderar e abrir caminhos para o que quer dizer.
Sua sabedoria é empática, pois se mostra genuína, e a história ganha a curiosidade e olhares de parcerias que vão se somando ao trabalho cheio de referências que o artista faz: Jhon Jhon é um adulto inconformado atento à sua volta, não abrindo mão de si e ainda se apropria daquilo que o agrega. Édipou terá um caminho longo, de lapidação e trabalho, pois quanto mais se tem a dizer mais caminhos se têm para escolher.